Em tom de despedida, o presidente da Petrobras,
Ivan Monteiro, defendeu nesta terça-feira (6) a manutenção da política de preços dos combustíveis
pelo governo Jair Bolsonaro e disse que mudanças nos processos de gestão da companhia seriam muito
mal recebidas pelo mercado.
A equipe de Bolsonaro tem emitido sinais contraditórios com
relação aos preços dos combustíveis. Enquanto o programa de governo falava sobre seguir as cotações
internacionais, como a Petrobras faz atualmente, o presidenciável reclamou publicamente do aumento
de preços em entrevistas e redes sociais. A gente acha que essa política é transparente, que dá
previsibilidade ao mercado, disse Monteiro, em entrevista para detalhar o lucro de R$ 6,6 bilhões
da companhia no terceiro trimestre de 2018. Evidentemente que o novo governo tem liberdade para
fazer alterações, mas cabe a nós esclarecer sobre a relevância dessa política, completou.
A
fórmula atual de reajustes dos combustíveis foi iniciada em outubro de 2018, na gestão Pedro
Parente, e tem como parâmetros as cotações internacionais, a taxa de câmbio e custos de importação
dos produtos. Passou a ser fortemente questionada com a escalada dos preços este ano, devido á alta
do petróleo e do dólar.
Em entrevistas, o presidente eleito Jair Bolsonaro disse que os
preços estão no limite e que tomaria medidas caso não parassem de subir. Questionado sobre as
críticas nesta quinta, Monteiro defende que a política é um dos pilares que permitiu a recuperação
da estatal nos últimos anos.
A estatal chegou a tentar blindar a política, incluindo no
estatuto artigos que preveem indenização do governo em caso de prejuízos por decisões políticas.
Alteração disso pode ser feita? Pode. A gente só acha que haverá reação muito negativa do mercado,
porque foram medidas que propiciaram a melhoria da governança da empresa, afirmou, citando mudanças
nos procedimentos de aprovação de investimentos.
Além da política de preços, o novo governo
deverá lidar com os processos de vendas de refinarias de dutos que foram suspensos por liminar do
STF (Supremo Tribunal Federal). A companhia já não conta com a conclusão desses processos em
2018.
Foram colocadas à venda participações de 60% em duas empresas de refino, que têm cada
uma duas refinarias, dutos e terminais. Além disso, a estatal estava em fase final de venda da malha
de gasodutos do Nordeste, em negociação com a francesa Engie.
A equipe econômica de Bolsonaro
tem falado em ampliar o processo de privatizações nos setores de petróleo e energia, embora haja
resistências da ala militar. Não há indicações sobre a manutenção do plano de desinvestimentos da
Petrobras, que deve chegar ao fim de 2018 com um terço da arrecadação prevista de US$ 21 bilhões (R$
78,7 bilhões, na cotação atual).
Monteiro disse que a gestão atual contribuirá com o processo
de transição para o novo governo e que ainda não houve contatos para falar sobre mudanças na direção
da companhia. Estamos aguardando qual vai ser a orientação do novo governo, não tem nenhum tipo de
articulação ou interação em relação a esse assunto, afirmou.
Ele aproveitou a entrevista,
porém, para fazer um balanço da gestão atual, que assumiu em 2015, ainda no governo Dilma Rousseff,
com a missão imediata de calcular em balanço os prejuízos provocados pelo esquema de corrupção
investigado pela Operação Lava Jato.
Foi a tempestade perfeita para a companhia, disse ele,
lembrando da perda da classificação de bom pagador de dívidas e dos investimentos que geraram
prejuízos. A gente tem agora companhia com toda a sua dívida reperfilada, toda a governança
perfilada, com valor de mercado de R$ 385 bilhões, completou dizendo que o resultado deixa a gente
muito orgulhoso.
Ao fim da entrevista, em suas considerações finais, deixou um abraço
especial aos jornalistas que cobrem a empresa por todos esses anos. Se por vezes, não consigo
responder exatamente o que vocês querem, não é nada pessoal, concluiu.
Fonte: FONTE: paranaportal.uol.com.br | FOTO: Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas