O réu José Frizanco, 61, foi condenado ontem a 30 anos e 8 meses de prisão em regime fechado pela morte e ocultação do corpo da esposa, Marli Frizanco, desaparecida desde 29 de junho de 2016. Assim como no caso do goleiro Bruno, é uma das poucas condenações no Brasil sem o corpo da vítima ter sido localizado. O júri começou na quinta-feira, às 9 horas, no Fórum de Francisco Beltrão, e foi encerrado ontem quando a juíza Janaína Monique Zanellato leu a sentença, por volta das 18h20, e informou que todos os quesitos apresentados pelo Ministério Público foram aceitos pelo conselho de sentença.

Edilaine, filha do casal, falou que ficou feliz porque entende que a justiça foi feita. “Eu sei que minha mãe não vai mais voltar, mas eu não queria que depois de tudo o que ele fez continuasse solto. Como ele falava que matar não era crime, é crime sim e graças a Deus existe justiça.”

Eliane, a outra filha, também comemorou o resultado. “Tudo que eu queria era justiça e justiça foi feita. Pela nossa mãe, a gente venceu.”

Edilaine ainda espera que o pai conte onde escondeu o corpo de Marli. “Agora na cadeia pode ser que ele crie vergonha na cara e conte onde jogou ela.”

A promotora Silvia Skaetta Nunes se disse extenuada ao final do júri popular, mas garantiu que o resultado foi satisfatório. “Desde o início esse caso foi de minha atribuição, fui eu que acompanhei o inquérito, ofereci a denúncia, então esse júri foi muito importante pra mim, eu me empenhei muito e, certeza absoluta, que fomos contemplados com a votação das juradas de acordo com toda a acusação que o Ministério Público colocou.”

Ela salientou que os jurados acolheram a procedência da acusação na íntegra. “Entendemos que a pena foi suficiente para reprovação dos atos praticados.”

A defesa não quis dar entrevistas, mas informou que irá recorrer ao Tribunal de Justiça do Paraná. Como já está preso há quase 2 anos, Frizanco, a princípio, deve cumprir pouco mais de 10 anos em regime fechado até ter direito à progressão para o regime semiaberto (harmonizado com tornozeleira eletrônica). A pena, contudo, ainda pode ser elevada porque tramitam dois processos contra ele, por agressão e posse ilegal de arma de fogo.

Frizanco levou “puxão de orelhas” da promotora
JdeB - O julgamento do réu José Frizanco foi retomado ontem, 15, por volta das 9h30 da manhã no Fórum da Comarca de Francisco Beltrão. O depoimento do acusado foi longo e terminou às 12h15. Frizanco foi inquirido inicialmente pela juíza Janaína Monique Zanellato, depois pela promotora de acusação Silvia Skaetta Nunes, pelo advogado de defesa Nei Eduardo Ries e por fim pelas juradas.

O réu disse que só ficou sabendo do relacionamento de sua esposa com outro homem quatro dias depois do sumiço dela. Ele negou que estivessem dormindo em camas separadas há vários anos e que as contas da casa eram pagas só pela esposa. Sobre o Boletim de Ocorrência (B.O) registrado por Marli de uma suposta agressão praticada pelo marido. “Duvido que prove, tudo mentira.” Na versão dele, a esposa estava sobrecarregada pelas despesas das filhas e aparentava ter depressão.

A despeito da seriedade do caso, por vezes Frizanco arrancou risadas do público que estava no plenário. Para contestar o depoimento do representante da Polícia Civil, ele disse que o policial estava “espichando chiclete” (aumentando a história). A promotora Silvia foi obrigada a chamar a atenção dele e pedir que respeitasse as pessoas. Sobre o dia do desaparecimento, Frizanco disse que viu a mulher a última vez entre 7h30 e 7h45. Ela estava na sala de costura e ele tentando dar a partida no carro. “Não devo nada do que me acusam.”

Na opinião dele, “Marli deu no pé” e, inclusive, mencionou que ela falava com frequência para as filhas que iria “embora”, iria “sumir”. Ele sustentou que as lesões no rosto e no pescoço não foram causadas por unhas e sim por um tronco de laranjeiras que estava podando. Embora acredite que Marli está viva, Frizanco citou que por ela ter saído com um “assaltante, um estuprador, não espero coisa boa, tudo pode ter acontecido”.

Ele se refere ao homem com quem Marli tinha iniciado um relacionamento. José se disse comovido, triste e angustiado com o sumiço da esposa. “Estou preso doente, inocente, jogado no lixo, dormindo em uma laje fria. Uma vergonha para uma sociedade digna. Passei por duas rebeliões, falta remédio, porque cadeia não é hospital.” Frizanco fazia muitos rodeios em suas declarações e, por vezes, tanto a juíza como a promotora, pediram para ele ser mais objetivo.

Frizanco garantiu que jamais disparou sua arma de fogo contra alguém e que sentia “saudade do facão” que usava para podar as árvores em seu lote. “Prove que estou envolvido em homicídio. Jamais, de minha parte não tem crime”, ressaltou para a promotora.


Fonte: FONTE: jornaldebeltrao.com.br | FOTO: Niomar Pereira/JdeB