Representantes de setores diretamente envolvidos com a cadeia avícola, como avicultores, transportadores, funcionários de frigoríficos e fornecedores de equipamentos participaram do seminário que discutiu propostas para amenizar a crise no setor. O evento aconteceu ontem, na Amsop, e foi organizado após a União Europeia suspender a importação de carne de aves de ao menos 20 frigoríficos brasileiros.

A intenção do seminário foi debater as possíveis consequências da medida no Sudoeste paranaense e sugerir ações para que o governo contenha uma crise mais severa no setor. O plenário aprovou um documento contendo reivindicações que envolvem ações para aumentar o consumo interno de carne de aves, redução de juros do crédito para os setores afetados, renegociação de prazos de financiamentos e medidas protetivas de desoneração da cadeia, com atenção aos pequenos produtores.
A carta pede ainda que o Governo Federal atue para evitar demissões em frigoríficos e que o Governo do Estado amenize a cobrança de ICMS sobre a energia elétrica utilizada na produção avícola. O documento foi entregue aos representantes de comissões montadas na Câmara Federal e Assembleia Legislativa para discutir a crise do setor, deputado federal Assis do Couto (PDT) e estadual Wilmar Reichembach (PSC), e também será encaminhado à Secretaria Estadual da Agricultura (Seab) e ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
Claudinei Colognese, presidente da Associação de Avicultores do Sudoeste do Paraná (Avisud), tem expectativa de que o Governo Federal e o Congresso Nacional possam auxiliar a avicultura. "Nós temos muitas esperanças que isso [a pauta de reivindicações] vai ser levado para o Governo Federal e que tomem medidas que consigam amenizar essa situação que está acontecendo hoje", disse.

A avicultura no Sudoeste
Os municípios do Sudoeste são responsáveis por boa parte da produção avícola nacional. A cadeia envolve milhares de produtores rurais de frangos e perus, além de grandes frigoríficos, como as unidades da BRF, Vibra, Dip Frangos e Coasul. Somente em Dois Vizinhos, que possui uma produção agropecuária de R$ 950 milhões, a avicultura representa quase 70% deste PIB gerado no interior.
Em outras cidades da região, a participação do setor também é grande. Em Francisco Beltrão - de onde sai 30% da carne de peru brasileira exportada -, a empresa que mais gera ICMS é a BRF; em Clevelândia e Chopinzinho, o setor avícola representa boa parte do chamado Valor Bruto da Produção (VBP), índice anual que verifica a movimentação financeira gerada pela produção agrícola e pecuária.
Segundo dados do Deral (Departamento de Economia Rural), da Seab, um terço do PIB agropecuário do Sudoeste - 28% - está ligado à avicultura, através da produção de aves, pintainhos e ovos. A cadeia avícola é um dos setores mais importantes da economia regional, porque a movimentação financeira se dá nos transportes de ração, aves, carnes processadas, em mecânicas e empresas de pneus, empresas de coleta de aves, aviários individuais e núcleos de produção de ovos, o que gera grandes receitas, empregos e impostos para a região.

Impacto nos municípios
O presidente da Amsop e prefeito de Santa Izabel do Oeste, Moacir Fiamoncini (PSDB), considera preocupante a situação do setor, já que a crise pode afetar a economia dos municípios e as finanças das prefeituras. "Não são todas as cidades que possuem frigoríficos de abate de aves, mas todas certamente têm produtores que geram uma renda indireta a outros segmentos, ajudam a movimentar o comércio e tiram as notas de produtor, que são usadas para fins de cálculo do ICMS. Tudo isso pode ser impactado caso a situação piore, inclusive os orçamentos municipais", frisou Fiamoncini.
Uma das preocupações dos produtores é com o embargo às exportações de carne de peru para os países da União Europeia. A unidade da BRF de Beltrão tem dois abatedouros de perus de médio e grande porte. Parte da produção se destina ao mercado europeu. "A questão do peru é o mais preocupante aqui na nossa região, porque na Europa é o que dava lucro na questão do peru, então se não voltar a exportação, esse mercado do peru ele não é do dia para noite, que consegue colocar em outros países, então a nossa preocupação é que essa cadeia quebre, então começa a fechar aviário e o produtor fica sem essa renda", comentou Claudinei Colognese.

Lideranças políticas
O evento também foi acompanhado pelos deputados estaduais Nelson Luersen (PDT) e Paulo Litro (PSDB), além de prefeitos, presidentes de associações de produtores, avicultores e vereadores. A deputada federal Leandre Dal Ponte (PV) foi representada por Rogério Massetto e a Comissão de Agricultura da Amsop, uma das promotoras do evento, pelo seu presidente, o prefeito de Pérola D´Oeste, Nilson Engels (PSC).

Avicultores e lideranças pedem maior apoio do governo
Participaram do seminário vários profissionais especializados em agricultura e avicultura. Boa parte deles opinou sobre o assunto. "Eu vejo muita ausência do nosso Governo Federal no nosso setor, falta estoque regulador, faltam políticas de preços mínimos. Não temos mais aquela pessoa lá brigando por nós. Olhem o que está acontecendo com o milho agora, acabaram de exportar 117% a mais que ano passado e agora não temos milho. E milho novo agora é só em janeiro ou fevereiro. E eu acho que nossa crise ainda não chegou no fundo do poço, vai ficar pior", avaliou Claudimar de Carli, engenheiro agrônomo e avicultor que esteve presente no seminário.
Paulo Bonan é profissional de avicultura desde 1985, mas desde 1996 é também avicultor. Trabalhou na Chapecó Avícola, depois Sadia e, por último, na BRF. "A forma do avicultor ganhar mais dinheiro nem sempre é ter alguns centavos a mais na renda, mas reduzir custo de produção. Mas como fazer isso sem que essas ações venham em detrimento da produtividade? Hoje a Copel está levando 25% da minha renda. Ainda tem mais a falta de luz constante na nossa região. A gente não aproveita a energia solar, que poderia nos ajudar bastante", opinou.
Ildo Panizon, presidente da Associação dos Avicultores de Saudade do Iguaçu, também deixou a sua mensagem no seminário: "Eu sou um agricultor dos mais pequenos, com um aviário de 1.200 metros quadrados. Mas nas reuniões que nós fizemos, a gente faz as contas, e eu tenho um prejuízo de R$ 1.900 por lote. Então vejam a nossa situação. Se tá desse jeito trabalhando, se pararmos, imagina como fica. É muito triste falar disso aqui".
Juarez Pompeo, ex-presidente da Associação de Avicultores de Chopinzinho, também deu sua opinião: "A gente vê muito se falar sobre a avicultura, mas pouco se faz. Eu trouxe aqui uma fatura de luz pra mostrar pra vocês a situação. Se não pagar a luz, o bicho pega. Então eu digo aos deputados, que se querem ajudar nós, façam alguma coisa em relação à energia."
Ilceu Peretti, presidente da Associação de Avicultores de Chopinzinho (Asmac), demonstrou a preocupação dos produtores. "No momento está muito difícil para a agricultura e, se parar esse setor, vai ser um problema bem sério pra nossa região, tendo assim muitas famílias que vão ficar praticamente sem o que fazer, que hoje dependem cem por cento da avicultura, sem contar com todo o reflexo que vai causar na cidade e no Sudoeste, tem em torno de dez mil funcionários nos frigoríficos da nossa região, então vai ser uma grande catástrofe".

Foto/Legenda: Documento com propostas foi entregue a representantes da Câmara e Alep; na foto estão Claudinei Colognese, Ilceu Peretti, Astério Marchetti, Antonio Pedron, Rogerio Masseto, Wilmar Reichembach, Assis do Couto, Moacir fiamoncini e Nelson Luersen.      


Fonte: FONTE: jornaldebeltrao.com.br | FOTO: Leandro Czerniaski/JdeB