Se para o setor produtivo a crise na avicultura
preocupa, para os consumidores ela pode representar economia na hora de ir ao supermercado. Soeli
Kulkamp possui um restaurante em Eneas Marques onde são vendidos mais de 100 kg de galetos toda
semana e está gostando do baixo preço do frango. "De qualquer forma, temos que comprar para oferecer
aos clientes, mas quando o preço está menor, fica melhor, porque compensa a alta de outros
alimentos", argumenta.
O frango tem sido uma opção na mesa de muitos brasileiros, que
passaram a escolher a carne nos últimos meses atraídos pelo baixo preço, segundo Vinicius Lachman,
coordenador regional da Associação Paranaense de Supermercados (Apras): "As carnes suína e de aves
têm sido um grande atrativo para o consumidor, elas vêm se mostrando uma oportunidade de consumo de
proteína animal mais barata em vista da carne de gado, que tem mantido seu preço".
Dados do
Departamento de Economia Rural da Secretaria de Agricultura (Deral/Seab) mostram que o preço médio
do frango congelado no Paraná está próximo do praticado em 2015: R$ 5,36 em março ante R$ 5,31 há
três anos. O valor é 11% menor que em 2017, quando este tipo de carne atingiu seu maior preço, R$ 6.
Já a coxa e sobrecoxa chegou a R$ R$ 6,27 no Estado em fevereiro, o menor valor desde 2016, quando a
média anual foi de R$ 7,23.
Em Francisco Beltrão, os supermercados compram o frango de
diversos frigoríficos e cooperativas da região e o preço tem variado. No caso do Super Vipi, os
fornecedores ainda não repassaram a queda na última semana, de acordo com o gerente Hermes Moos, no
entanto, o Mano Manfrói já está comprando a carne mais barata há cerca de 15 dias. "[O preço] está
até 10% abaixo do que vinha sendo praticado", afirma o proprietário Sergio Vandresen.
Os
preços já baixos do frango têm sido utilizados pelos mercados como um chamariz de clientes. A coxa e
sobrecoxa, por exemplo, que é o corte mais vendido, é comercializada por menos de R$ 3 em muitas
lojas, um preço abaixo do praticado pelos atacadistas. "É uma forma de trazer fluxo para os
mercados, fazendo ofertas com valor extremamente competitivo", explica Lachman.
Consequências para o mercado avícola
À parte das promoções, os
preços que hoje se mostram vantajosos para os clientes podem trazer consequências negativas para os
próprios consumidores em médio e longo prazo. Para o representante da Apras, a crise da avicultura
pode desestimular produtores e outros segmentos envolvidos na cadeia de frango e peru. A única saída
possível neste momento é a população absorver o excedente da produção que não é exportado.
"Hoje o preço está baixo e isso pode inviabilizar muitos produtores, que vão abandonar a
atividade. Nossa expectativa é que os envolvidos solucionem esta questão o mais rápido possível, mas
o que as pessoas podem fazer agora é consumir mais carne de frango, fazer com que o mercado interno
ajude a absorver parte do que deveria ser exportado", pontua Vinicius Lachman.
Crise pode
afetar emprego de 30 mil trabalhadores, estima confederação
A análise da professora Roselaine
Navarro, do curso de Ciências Econômicas da Unioeste, é de que o embargo deva complicar ainda mais
as negociações que visavam estabelecer um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União
Europeia e que a abertura de novos mercados pode ser dificultada devido à saturação do produto em
vários países.
"A despeito de ser a razão do embargo uma questão sanitária ou de
protecionismo, o fato é que, caso não ocorra rapidamente a reversão do quadro, o setor poderá ser
fortemente impactado, já que as 20 unidades alvo do embargo responderam, em 2017, por cerca de 30%
das exportações para a União Europeia. A princípio, a substituição do mercado europeu por mercados
substitutos como o México, a África do Sul e o Oriente Médio se mostra relativamente difícil, já que
estes apresentam certa saturação quanto ao produto, como afirmou o vice-presidente de Mercado da
ABPA, Ricardo Santin, em entrevista concedida à Agência Brasil. Nesse sentido, é provável que o
mercado doméstico apresente queda no preço médio da carne de frango", analisa Roselaine.
Com
base em dados da Confederação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores do Setor de Alimentação
(Contac/CUT), a professora estima que o emprego de 30 mil trabalhadores envolvidos na cadeia
produtiva dos 20 frigoríficos embargados possa ser afetado e que "o cenário, de fato, não é bonito,
o que exige uma postura enfática do Estado no sentido de revertê-lo com brevidade".
Foto/Legenda: Segundo o açougueiro Adilson Cabral, o frango é a carne
branca mais procurada no supermercado.
Fonte: FONTE: jornaldebeltrao.com.br | FOTO: Leandro Czerniaski/JdeB