Por Marcos Witeck*

A devoção a Nossa Senhora da Saúde foi trazida de Portugal pelo monsenhor Eduardo Rodrigues Machado. Na década de 50, quando veio para suas andanças missionárias no Sudoeste do Paraná, ele estava passando por momentos difíceis e arriscados em meio aos posseiros e jagunços, que lutavam por questões de posse das terras na região. Diante das dificuldades, o monsenhor sempre recorria à intercessão de Nossa Senhora da Saúde e, por isso, concebeu a ideia e fez nascer o propósito de erguer um santuário em sua honra.

Com o passar dos anos, a ideia foi amadurecendo e, no dia 7 de julho de 1990, o monsenhor redigiu uma "Proposta de Estatuto", com apenas três artigos, e encaminhou para dom Agostinho José Sartori, que colocou em apreciação do Conselho Presbiteral no dia 21 de agosto de 1990, constituindo uma comissão para estudar a localização de todos os santuários e disciplinar a matéria sob o ponto de vista canônico.

Depois disso, em 19 de novembro de 1990, a referida comissão apresentou ao Conselho Presbiteral o seu parecer favorável, sendo ratificada pela Assembleia Diocesana, que aprovou o propósito de construir o Santuário de Nossa Senhora da Saúde e já marcou a primeira romaria para o dia 24 de novembro de 1991. O local escolhido foi o Monte Calvário, assim batizado pelo monsenhor, no dia 30 de março de 1991, momento em que se realizava a primeira visita ao ponto mais elevado da cidade.

O terreno, posteriormente, foi doado pela Cooperativa Agrícola Mista Duovizinheinse Ltda (Camdul), que aprovou a cedência em assembleia no dia 30 de agosto de 1991, com voto unânime dos 300 associados presentes. No dia 13 de outubro de 1991, iniciaram os preparativos para construção do santuário, com a limpeza, a terraplanagem e as demarcações dos lugares onde seriam plantadas as 15 cruzes da Via-Sacra, ofertadas por todas as capelas e a matriz Nossa Senhora de Fátima. A comunidade, em regime de mutirão, limpou quase toda a área e plantou cinco mil mudas de eucalipto.

Ao preparar o local, foram descobertos quatro pilares de pedra, monólitos, que estavam colocados verticalmente no solo, sendo que um deles permanece no local sustentando a lápide e a mitra. Esses pilares foram estudados por um grupo de pesquisadores da Copel/UTFPR, em 1998, quando se fazia o levantamento arqueológico ao longo do Rio Iguaçu, área de terra que seria inundada pelo reservatório da Usina Hidrelétrica de Salto Caxias. As conclusões e anotações destes estudos encontram-se no livro "Piabiru: Os Incas no Brasil", do historiador Luiz Galdino. Ele afirma que o local é um espaço religioso por natureza, onde nossos antepassados já faziam suas adorações e observações, além de apreciar o nascimento e o crepúsculo solar.

Historicamente, os montes são lugares de oração, de intercessão, de transfigurações, de bênçãos. Como podemos ver na Sagrada Escritura, as diversas passagens como o Sermão da Montana, o Monte das Oliveiras, o Monte do Tabor mostram os lugares importantes, ligados a personagens e fatos da história da salvação e selados por santuários. É dentro desta perspectiva que se situa o Santuário de Nossa Senhora da Saúde do Monte Calvário, de Cruzeiro do Iguaçu.

Concluídos os trabalhos de edificação e demarcados os locais das cruzes, deu-se o início do tríduo. Em 24 de novembro de 1991, a procissão carregando as 15 cruzes da Via-Sacra, confeccionadas pelos próprios membros das comunidades, saiu da Igreja Matriz Nossa Senhora de Fátima em direção ao Monte Calvário, onde foram colocadas nos locais demarcados.

Chegando ao topo, fez-se o descerramento da lápide pelo bispo dom Agostinho José Sartori, juntamente com o prefeito Luiz Alberi Kastener Pontes. Também, foi descerrada a mitra pelos senhores Valdir Luiz Pagnoncelli, diretor da Rádio Educadora de Dois Vizinhos, e pelo secretário de Educação de Cruzeiro do Iguaçu, Roque José Both.

Em seguida, procedeu-se a bênção do santuário e do Monte Calvário, seguida de missa presidida pelo bispo dom Agostinho José Sartori, concelebrada pelo idealizador do santuário, monsenhor Eduardo Rodrigues Machado, que cuidou de todos os detalhes dos preparativos para a romaria, desde a confecção dos livretos e programação. As homenagens a Nossa Senhora da Saúde e a bênção da saúde e dos objetos religiosos ocorreram somente à tarde, com o encerramento da romaria.

Passados 26 anos da primeira romaria, o santuário foi todo revitalizado, graças ao empenho do pároco Irineu Caus, dos membros do Conselho Pastoral e de toda a sociedade, que colaborou e se empenhou para deixar o santuário bonito, aconchegante e agradável para os nossos queridos romeiros, que vêm dos mais longínquos recantos para venerar e rezar com a Nossa Senhora da Saúde. Muitos romeiros chegam ao santuário fazendo longos trajetos a pé, numa caminhada de penitência e oração. As romarias acontecem todo ano, no domingo mais próximo ao dia 21 de novembro, data em que se comemora a Nossa Senhora da Saúde.

*Marcos Geraldo Witeck é ex-vereador, ex-secretário de Educação, professor de História, ex-diretor do Colégio Estadual Dr. Arnaldo Busato, Ensino Fundamental e Médio, de Cruzeiro do Iguaçu, formado em Filosofia, UPF, pós-graduado em História do Brasil e Pedagogia Escolar. Membro fundador do Centro de Letras de Francisco Beltrão.


Foto: Momento da inauguração do santuário e da primeira romaria.


Fonte: FONTE: jornaldebeltrao.com.br | FOTO: Pascoal Moreno/Divulgação