Na manhã de ontem, autoridades e cidadãos dos municípios pertencentes à comarca de Marmeleiro - Marmeleiro, Renascença e Flor da Serra do Sul - reuniram-se no Fórum Eleitoral da cidade para uma audiência pública que tratou do rezoneamento eleitoral e do risco de fechamento da zona eleitoral 140, que abrange os três municípios e está instalada em Marmeleiro. A audiência foi aberta e contou com a presença de cerca de 40 pessoas.

O rezoneamento tem como justificativa a necessidade de fazer economia no processo eleitoral. Para isso, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) busca fechar diversas zonas eleitorais em lugares em que as considera desnecessárias. Isso inclui zonas de todo o País e põe em risco também algumas do Sudoeste.

Para o promotor eleitoral de Marmeleiro, Pedro Scalco, o rezoneamento não é necessariamente ruim, porque é preciso sempre revisar a situação para evitar que uma prática errada se "fossilize". Ele usa como exemplo algumas capitais que têm zonas eleitorais em excesso, como é o caso do Rio de Janeiro. Mas pondera que a realidade de Marmeleiro é diferente e, por isso, é importante a manifestação da sociedade em mostrar seu interesse de manter a zona eleitoral do município.

Scalco questionou os presentes sobre o assunto e o posicionamento foi unânime: A sociedade dos três municípios - representada pelos presentes na audiência - quer a manutenção da zona eleitoral de Marmeleiro. A prefeita de Flor da Serra, Lucinda da Rosa (PSC), destacou: "Nós não queremos que nossa zona eleitoral volte para Barracão, queremos que permaneça aqui, que é a nossa comarca, temos os outros serviços, e tudo é mais viável para cá".

O juiz da Comarca, Márcio de Lima, acrescentou que as vantagens de manter a zona eleitoral em Marmeleiro compreendem um atendimento mais próximo ao eleitor e também a proximidade de juízes e promotores eleitorais, que podem coibir corrupções eleitorais e dar uma resposta mais rápida quando há infringência à lei.

A princípio, a zona eleitoral de Marmeleiro - com 21 mil eleitores entre os três municípios - está fora de perigo, já que a definição é fechar zonas que possuam menos de 20 mil. "Hoje eu não encontraria uma justificativa para extinguir a zona, porque nós estamos acima do eleitorado mínimo. Temos uma sobra de mais de mil eleitores, não tem como justificar. Mas o tribunal tem autonomia de decidir pela retirada de um ou outro município, para juntá-lo a outra zona eleitoral. Não acredito nessa medida, mas ela é possível e temos que ficar atentos para não sermos surpreendidos", ponderou o juiz. Além disso, ele disse que é importante a população participar dos trabalhos da justiça eleitoral, como a revisão biométrica que está acontecendo atualmente, para mostrar que é importante a presença da zona eleitoral no município.

Juiz contesta o argumento de economia
A justificativa que o TSE dá para o fechamento de zonas eleitorais é a da economia - menos zonas significariam menos gastos. No entanto, o juiz da Comarca de Marmeleiro questiona esse posicionamento. "Os números que nos foram repassados são de uma economia de talvez 2% do orçamento de todo o TSE. É uma economia muito pequena, que poderia ser alcançada com outras medidas de contenção de gastos que não o fechamento desses serviços, que eu considero essenciais."

Entre essas medidas, ele aponta a extinção de sessões eleitorais pequenas, de interior - como já está sendo feito em Francisco Beltrão e Marmeleiro. "O Paraná tem uma tradição de ter sessões muitas vezes próximas e com número de eleitores bem pequeno. Então vamos juntar essas sessões, que na hora da eleição vai reduzir os gastos", avalia.

Além disso, ele aponta a possibilidade de reduzir os gastos com papel com a implantação do processo eletrônico. "A Justiça Estadual, que tem muito mais processos, já tem todos os processos novos informatizados. Então vamos levar essas medidas de tecnologia para a Justiça Eleitoral, que eu tenho certeza de que vamos superar os 2% de economia tranquilamente", pondera ele, e acrescenta que essas são só duas das medidas possíveis.

Ainda na consideração de gastos com papel, ele menciona a lei aprovada recentemente que obriga a impressão do voto nas urnas eletrônicas em todo o País. Para o magistrado, não faz sentido fechar zonas eleitorais para cortar gastos enquanto os deputados aprovam uma lei dessas, que vai gerar tanta despesa para os cofres públicos.

"É um retrocesso. É uma medida aprovada por nossos parlamentares por aquela desconfiança de que o sistema eletrônico é passível de fraude. Mas eu acredito na urna eleitoral do jeito que é hoje. Em toda eleição é permitido que se auditem os sistemas, pela sociedade em geral, entidades, e até hoje não se descobriu nenhuma fraude. Então como você vai justificar a impressão do voto? Se não se descobriu nada, se não há indícios de que o sistema não funciona, parece que é uma medida errada, que vai causar aumento de custos e não vai trazer nenhum benefício."

Foto: Na mesa, a chefe do cartório, Andrea Rolim de Moura, promotor eleitoral, Pedro Scalco, e o juiz da Comarca de Marmeleiro, Márcio de Lima, presidiram a audiência pública em defesa da atual zona eleitoral.


Fonte: FONTE: jornaldebeltrao.com.br | FOTO: Rubens Anater/JdeB