Por Beto Rossatti e Rubens Anater/JdeB

Em junho, o mercado importador dos Estados Unidos fechou as portas para a carne brasileira, por causa de problemas sanitários. O bloqueio já acendeu alertas no mercado europeu e outros mercados mundo afora. Além disso, a própria China, maior comprador de carne fresca produzida no Brasil, abriu seus mercados para exportadores americanos e reduziu a importação do produto brasileiro. Não foi um bom mês para a exportação de carne brasileira, que ainda estava se recuperando do impacto das descobertas da Operação Carne Fraca.

Segundo a assessoria do Sistema Faep (Federação da Agricultura no Estado do Paraná), o Paraná não exporta carne para os EUA desde 2008, por isso o bloqueio não deveria ter reflexo muito grande na pecuária paranaense. No entanto, profissionais do setor no Sudoeste estão começando a sentir o baque. Os estoques estão cheios e os frigoríficos estão diminuindo a compra de bois dos produtores da região.

O quadro é confirmado no Frigorífico da Novicarnes em Pato Branco. Segundo o gerente comercial da unidade, Vagner Blazios, o abate foi reduzido pela metade. "Não temos demanda para a carne, fomos forçados a reduzir o abate semanal em 50% e, mesmo com os preços em baixa, recebemos muitas ligações diárias de produtores querendo vender." O frigorífico está abatendo apenas o plantel dos cooperados, porque não tem demanda para a carne.

Já no Frigorífico Frispar, em Marmeleiro, o abate ainda não foi reduzido, mas a perspectiva é de uma queda nos próximos dias. "Até então, estamos mantendo o abate, mas já estamos com o estoque cheio. Esperamos que melhore, mas se até a semana que vem não sinalizar nenhuma melhora, vamos ter que diminuir", comenta Giovani Tolotti, um dos diretores do frigorífico.

Carne mato-grossense invade o Paraná
Como que os estoques da região estão cheios se o Paraná não depende da exportação para os EUA? Para Giovani, isso acontece porque os bloqueios de exportação, somados aos problemas com a JBS - grande exportadora de carne bovina -, causaram uma sobra do produto no Estado do Mato Grosso, por isso, frigoríficos de lá começaram a vender por aqui.

Com preços baixos motivados por essa crise na exportação e pelos incentivos fiscais do Estado, a carne mato-grossense se impôs nos mercados. Além disso, frigoríficos paranaenses de maior porte, com mais capacidade de reduzir seus preços, também estão ocupando mercados do Sudoeste. Isso faz com que o produto dos frigoríficos da região - de porte menor - comece a sobrar.

Prejuízos para pecuaristas são diários
O presidente da Sociedade Rural de Pato Branco, pecuarista Eucir Brocco, comenta que nesta semana frigoríficos nacionais reduziram novamente a compra de boi. Ele atribui essa queda ao bloqueio do mercado internacional. "Os negócios estão parados, os frigoríficos não estão comprando e os prejuízos para os pecuaristas com boi confinado são diários", afirmou Eucir Brocco.

Aumentaram os estoques da indústria brasileira e, com isso, os preços pagos ao pecuarista tendem a cair ainda mais. "Estamos torcendo pela recuperação de praças como a dos Estados Unidos, que o Ministério da Agricultura sinalizou que poderá ocorrer nos próximos 60 dias", disse o agricultor.

Vagner Blazios, do Frigorífico Novicarnes, também só acredita numa recuperação a partir dos próximos 60 dias, e isso só se os EUA voltarem a comprar.

Incoerência fiscal
Giovani Tolotti do Frigorífico Frispar diz que um dos assuntos mais prementes para a situação dos frigoríficos no Estado é a questão fiscal: "É a tecla que mais batemos com a Associação dos Frigoríficos do Paraná". Segundo ele, alguns Estados possuem barreiras fiscais para vender fora de suas fronteiras, enquanto outros recebem incentivos para a mesma prática. "Por exemplo, Marmeleiro fica ao lado de Santa Catarina, e lá o preço da carne está mais alto. Então temos carne mais barata, mas para a gente vender lá, tem que pagar 12% de impostos, então não vale a pena. Outros Estados não têm essa barreira, como o Mato Grosso, que tem até incentivo para estar vendendo para a gente", avalia.

Por isso, para ele, a demanda é que todos os Estados tenham o mesmo sistema, para que o mercado se equilibre.

Crise na exportação
Desde 22 de junho, o mercado importador de carne fresca dos Estados Unidos está fechado para a carne brasileira. A alegação norte-americana é que a fiscalização encontrou amostras do produto com excesso de abcessos (acúmulo de pus no tecido do animal). De janeiro a maio, os EUA haviam importado 11.000 toneladas, equivalentes a aproximadamente 49 milhões de dólares, o que representa apenas 2,7% do total de exportações brasileiras de carne fresca, no entanto, o mercado americano - um dos mais bem fiscalizados - serve como exemplo para muitos outros mercados internacionais e chegou, inclusive, a acender um alerta na Europa. 
Caso a situação não seja corrigida em breve, muitos outros países poderão fechar as portas para a carne fresca brasileira. Foi um duro golpe para a exportação brasileira, que ainda estava abalada pela Operação Carne Fraca e pelos escândalos envolvendo a empresa JBS, grande exportadora de carne para o exterior.

Foto: Frigoríficos do Sudoeste estão com estoques de carne aumentados, devido à concorrência.


Fonte: FONTE: jornaldebeltrao.com.br | FOTO: Beto Rossatti/JdeB