Curitiba recebeu ontem a segunda edição da
Marcha pela Diversidade. O evento, que marcou o encerramento da Semana da Diversidade, reuniu cerca
de três mil na região central da cidade em um manifesto contra a violência e pelos direitos de
lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. O momento, inclusive, não poderia ser mais
oportuno para a manifestação.
Segundo informações do Grupo Gay da Bahia (GGB), que mantém o
site Homofobia Mata, no primeiro semestre deste ano o Paraná registrou um número recorde de
homocídios. Foram 12 ocorrências noticiadas até ontem, o que dá uma média de dois casos por mês e
representa uma alta de 50% na comparação com o mesmo período do ano anterior, quando haviam sido
oito casos.
Desde 2011, quando teve início a série histórica, o estado registrou um total de
90 homocídios. Número que só não é maior porque os crimes homofóbicos não são tipificados (ou seja,
previstos em lei), o que dificulta o registro estatístico das ocorrências e enseja o fenômeno da
subnotificação. O GGB, por exemplo, faz seus levantamentos com base em notícias publicadas em
jornais de todo o país, já que não há nenhum tipo de registro oficial sobre esses
casos.
Entre os municípios, Curitiba é a campeã em ocorrências, com 27 homocídios, dos
quais cinco foram registrados neste ano. Chama a atenção, ainda, a violência registrada em cada um
dos episódios. Embora a maior parte das ocorrências no Paraná envolvam arma de fogo (39,2%), os
casos de facadas (23%), asfixia ou afogamento (9,5%), espancamento (5,4%), apedrejamento (5,4%) e
tortura (4%) também são recorrentes.
Com relação aos casos registrados neste ano, a
brutalidade e a barbárie parecem estar em alta. As mortes por tiros ainda são a maioria, com cinco
registros, mas chama a atenção o fato de quatro mortes terem sido por espancamento e tortura, além
de um caso de apedrejamento.
O antropólogo Luiz Mott, fundador do GGB, classifica esses casos
como um homocausto, apontando ainda a ausência do Estado no sentido de garantir maior segurança à
comunidade não à toa o Planalto já foi ameaçado de ser denunciado à Comissão de Direitos Humanos
da OEA. Lamentavelmente, vivemos um apagão em termos de políticas públicas para a comunidade LGBT e
o país se vê incapaz de erradicar a homofobia, afirma.
Impunidade estimula a violência, diz Grupo Gay
A maior parte dos casos de homocídio
são registrados de noite ou de madrugada, em lugares ermos ou dentro de casa, o que dificulta a
identificação dos autores, aponta o relatório de 2016 do Grupo Gay da Bahia. Além disso, contudo,
quando há testemunhas, muitas acabam se recusando a depor devido ao preconcento
anti-LGBT.
Mas o que mais chama a atenção é o preconceito oficial e institucional:
Policiais, delegados e juízes manifestam sua homotransfobia ignorando tais crimes, negando, sem
justificativa plausível, sua conotação homofóbica, diz o grupo.
No ano passado, foram
registrados 343 homocídios em todo o país. Somente em 17% dos casos o criminoso foi identificado (60
de 343), mas o número de ocorrências que resultou em abertura de processo e punição aos assassinos é
bem menor: 10%.
A impunidade estimula novos ataques. Dentre os 60 criminosos de LGBT,
praticamente a metade mantinha contatos próximos com a vítima, seja como companheiro atual (27%)
ex-amante (7%) e parentes da vítima (13%), aponta o relatório anual do GGB. Clientes,
profissionais do sexo e desconhecidos em sexo casual foram responsáveis por 47,5% desses crimes de
ódio.
Marcha pela Diversidade reúne 3 mil
pessoas
A segunda Marcha pela Diversidade, realizada ontem, em Curitiba reuniu cerca de 3
mil pessoas, segundo a estimativa da Polícia Militar do Paraná. Os participarantes se concentraram
na Praça Santos Andrade, de onde saíram por volta das 14 horas, em direção a Rua João Negrão,
passaram pela Avenida Marechal Deodoro de onde seguiram até a Praça Zacarias, Avenida Luiz Xavier,
no marco do relógio da Boca Maldita.
A Marcha foi conduzida pelo Trio Elétrico com a presença
de vários Djs curitibanos , convidados e artistas locais, ao final do trajeto na Boca Maldita, haver
um palco com apresentações de Drag queens locais, Artistas na cena Curitibana e mais Djs para a
valorização da cultura LGBTI curitibana.
O Dia 17 de Maio é o Dia Internacional Contra a
Homofobia e a Transfobia. Neste dia, em 1990, a homossexualidade foi retirada da Classificação
Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde. Em Curitiba, o Grupo Dignidade, Trangrupo
Marcela Prado e UNA LGBT, em conjunto com outras organizações parcerias, realizarão a Semana da
Diversidade, entre os dias 19 ao 24 de Junho de 2017, para marcar o Dia Contra a Homofobia e a
Transfobia.
Foto: Participantes se concentram na Praça Santo
Andrade, de onde saíram por volta das 14 horas, em direção a Rua João Negrão.
Fonte: FONTE: bemparana.com.br | FOTO: Vagner Rosario/VEJA