A geração de energia solar começa a dar indicativos de que deve, num futuro não tão distante, assumir um papel importante no Paraná. Desde outubro de 2013, quando a Companhia Paranaense de Energia (Copel) conectou o primeiro microgerador solar ao seu sistema, o número de ligações tem crescido exponencialmente, em especial nos dois últimos anos.

Segundo a Copel, em novembro de 2015 eram 100 os geradores solares ligados à rede de energia no Paraná. Um ano e meio depois, esse número registrou um salto de 755%, chegando a 855. Assim, o Estado e a Copel ficam em terceiro lugar no número de microgeradores conectados ao sistema de energia elétrica, atrás apenas do grupo paulista CPFL e da mineira Cemig.

“No Brasil existe um total de 11.635 microgeradores. Então, hoje temos pouco mais de 7% dos microgeradores de todo o País”, afirma Júlio Omori, superintendente de projetos especiais da Copel. “Isso é interessante, especialmente considerando a questão do ICMS, que muitos estados já oferecem isenção, mas o Paraná ainda não. São Paulo já aderiu, Minas Gerais também e eles estão na frente do Paraná. Mas muitos que aderiram estão atrás da gente. Se tivessemos adesão (à isenção do imposto), poderíamos ter um número maior.”

Dois fatores explicariam esse “boom” da energia solar. O principal deles, segundo André Zeni, gerente de atendimento de acessantes de geração distribuída da Copel Distribuição, é a alta no preço da energia registrado nos últimos anos. “Isso incentivou a população a empreender e buscar soluções alternativas, já que esse investimento, que era de longo-prazo, passou a ser de médio-prazo”, aponta Zeni. O outro motivo seria a evolução tecnológica. “Hoje temos mais fabricantes e, com essa disseminação da tecnologia, temos um aumento nesse tipo de instalação nas residências do Paraná”, complementa.

O potencial paranaense, porém é muito maior do que os números atuais podem indicar (e também do que muita gente pode imaginar). Uma pesquisa feita por Gerson Tiepolo, professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e especialista em energia solar, revela que o potencial médio do Paraná é 58,7% superior à da Alemanha, segunda maior produtora de energia solar do mundo, atrás apenas do Japão.

Mesmo Curitiba, considerada uma das cidades mais frias do país, com céu nublado e muita chuva ao longo dos meses, possui um potencial enorme, 48% superior ao do país europeu. Por outro lado, o Litoral, ao contrário do que se pode imaginar, não é tão atrativo para esse tipo de atividade. “Os lugares com menor índice de irradiação são justamente no Litoral, próximo da Serra do Mar, porque temos um índice de nebulosidade bastante elevado ao longo do ano”, explica Tiepolo.

Investimento vale a pena
Embora a primeira conexão de um projeto de geração solar de pequeno porte à rede da Copel tenha acontecido apenas em 2013, desde 2011 a Universidade Tecnológia Federal do Paraná (UTFPR) desponta como pioneira quando o assunto é eficiência e sustentabilidade. É que no dia 15 de dezembro daquele ano foi inaugurado o Escritório Verde, projetado pelo professor Eloy F. Casagrande Jr. em parceria com mais de 60 empresas.

Segundo o próprio Eloy, que é professor do departamento de Construção Civil e coordenador do escritório, a iniciativa demonstrou desde sua criação que a instalação de painéis fotovoltaicos, telhados verdes e sistemas de coleta de água de chuva, entre outros, se provaram ser muito mais um bom investimento com retorno em médio e longo prazo do que um mero gasto.

“(O projeto) Baseia-se principalmente no princípio da arquitetura bioclimática. Todas as medidas que temos aqui no escritório e estamos avaliando há cinco anos, entre eles a geração de energia fotovoltaica, vem mostrando ganhos. Os investimentos se pagam em alguns anos e depois dão lucro. Então não são gastos, são investimentos”, aponta o especialista, que é pós-doutor na área de inovação e sustentabilidade.

Segundo ele, desde a criação do escritório grande parte dos profissionais têm mudado a forma de olhar para essa questão, e não apenas por uma consciência ambiental, mas também por uma questão econômica. “Temos registrado uma média semanal de pelo menos 20 visitas, entre profissionais, professores, estudantes, grupos e empreendedores interessados no novo mercado. Com a crise apertando, até tivemos um aumento na procura, porque tem mais gente buscando alternativas para economizar”, explica.

No futuro pode representar uma Itaipu
Citando estimativas da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Júlio Omori, superintendente de projetos especiais da Copel, aponta que a microgeração de energia solar poderá, até 2024, oferecer uma capacidade de geração próxima a de uma Itaipu, com capacidade de geração de 14 mil megawatts ou pelo menos uma Tucuruí, usina hidrelétrica localizada em Belém (PA) com capacidade de 8,4 mil MW.

“A Aneel prevê que até 2024 teremos 617 mil microgeradores em todo o país, com potencial de chegar a 1,23 milhão se tiver isenção do ICMS e normas adequadas para o setor”, diz o especialista. “Hoje, com 11 mil unidades, produzimos 130 MW. Então imagine isso multiplicado por 100. Seria algo próximo de uma Itaipu ou uma Tucuruí, que é um número bem expressivo, uma contribuição importante e sustentável para o negócio”, diz.

Banco — O Banco do Brasil anunciou nesta semaná que investirá R$ 1 bilhão no Paraná para o financiamento e instalação de usinas geradoras de energias renováveis pelos produtores rurais do Estado. A iniciativa, que faz parte do Programa Agro Energia.


Fonte: FONTE: bemparana.com.br | FOTO: Franklin de Freitas