No dia 13 de dezembro de 2016 a jovem Tatiele Terra Felipe, de apenas 10 anos,
acordou por volta das 9h30. Tão logo se levantou partiu para comprar um doce num bar próximo da
residência em que morava com a avó, Eva de Fátima Ferreira, em Cascavel. Ao retornar para casa,
avisou Dona Eva que sairia novamente, desta vez para pegar uma ferramenta emprestada. Desde então,
nunca mais foi vista.
O caso de Tatiele foi um dos muitos desaparecimentos de crianças
registrados no Paraná ao longo do ano passado, sendo 20 somente em dezembro. Segundo informações do
Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride), apenas em Curitiba foram 15 ocorrências
em 2016. Considerando-se toda a Região Metropolitana, o número salta para 47. Hoje é o Dia
Internacional das Crianças Desaparecidas.
Na maioria das situações, felizmente, o
desfecho é positivo, com a criança sendo localizada com vida em mais de 95% dos casos. Desde 1982,
segundo a Polícia Civil e a Secretaria de Segurança Pública, são 28 os casos de desaparecimento de
crianças que permanecem sem desfecho, metade deles registrados em Curitiba e Região
Metropolitana.
Dos desaparecimentos registrados no ano passado, somente dois ainda estão
em aberto, um deles o de Tatiele e outro envolvendo um menino de 9 anos chamado Oziel de Godoy
Muniz, que desapareceu em 8 de outubro na área rural de Rio Branco do Ivaí. Em outras duas situações
as crianças foram localizados, mas sem vida.
De acordo com a delegada do Sicride, Iara
Dechiche, os casos de desaparecimento de crianças apresentam similaridades. Em sua maioria são
jovens entrando na pré-adolescência, com 11 anos de idade, e majoritariamente do sexo masculino (53%
são meninos e 47%, meninas).
A maioria (dos desaparecimentos) envolvem desentendimentos
familiares, as vezes a criança está sofrendo um abuso e a família não sabe ou então sofre maus
tratos e resolve sair de casa. Também há muitos casos em que o menor sai de casa por rebeldia,
porque os pais cobraram alguma coisa, como notas, ou então simplesmente porque ela resolve que quer
viver fora de casa, aponta a delegada.
Os casos mais antigos ainda em alerta
Dos
28 casos de desaparecimento de crianças ainda em aberto no Paraná, sete foram registrados nesta
década, oito na passada, nove nos anos 1990 e quatro na década de 1980. O baixo número de
ocorrências nas duas últimas décadas se explica é que o Sicride foi criado no Paraná em 1996 e,
desde então, a maioria dos casos têm sido resolvidos.
O caso mais antigo remete a 29 de
março de 1982. Naquele dia, Ednilton Palma, que na época tinha 10 anos de idade, desapareceu em
Maringá, no Norte do Estado. Sua mãe, Delva Fiúza Palma, mantém até hoje esperanças de localizá-lo.
O outro caso, registrado em 18 de julho de 2016, foi o desaparecimento de Adriano Marques da Silva,
então com oito anos de idade. A última vez em que ele foi visto estava foi no Centro de Cascavel, no
Oeste do Paraná.
Outro caso, talvez o mais conhecido no Paraná, é o do menino Guilherme
Caramês, desaparecido em 1991, quando tinha oito anos. O caso ganhou projeção nacional.
A
Polícia Civil e outros órgãos de segurança pública mantêm fotos das crianças desaparecidas, com
nome, cidade do desaparecimento, idade na época do ocorrido. Em alguns casos, quando o
desaparecimento tem muito tempo, até mesmo fotos simulando como estariam estas crianças atualmente,
são divulgadas.
Por ano, 40 mil notificações
No Senado, está em análise na Comissão
de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) o Projeto de Lei que determina a divulgação
pela televisão das informações do Cadastro Nacional de Crianças Desaparecidas. A inserção seria
feita diariamente nos intervalos da programação das emissoras, por no mínimo um minuto, no período
compreendido entre 18 e 22 horas. Estima-se que 40 mil crianças e jovens desapareçam anualmente no
Brasil. No site www. desaparecidos.gov.br qualquer pessoa consegue registrar o desaparecimento de
uma criança ou adolescente.
Não é preciso esperar para notificar sumiço
Diferente do
que muitos podem imaginar, não é preciso esperar 24 ou 48 horas para comunicar a polícia sobre o
desaparecimento de alguém. O recomendado é informar as autoridades tão logo seja notado o
desaparecimento da criança, sendo importante ainda pedir par alguém ficar no local onde a criança
foi vista pela última vez, caso ela retorne ao local, avisar todos os amigos e parentes próximos,
além de ir aos locais onde o pequeno gosta de visitar com uma foto, caso tenha alguém para perguntar
sobre a criança.
Essa história de esperar 24, 48 horas para registrar (o B.O.) não existe. Foi
uma lenda que surgiu e as pessoas começaram a usar achando que tem de esperar, diz delegada Iara
Dechiche. Assim que perceberem o desaparecimento, os responsáveis devem procurar a Guarda
Municipal, a Polícia Militar ou a Polícia Civil na delegacia mais próxima, levando os documentos e
uma foto recente da criança. Quando mais rápido fomos avisados, mais rápido vamos agir e maiores são
as chances de localizar esse menor.
Atualmente, um comunicado sobre desaparecimento vale para
todo o País e todas as polícias podem buscar informações no banco de dados.
Para evitar
problemas
Segundo a delegada do Sicride, Iara Dechiche, muitas vezes, depois de a família
registrar o boletim de ocorrência informando desaparecimento, a criança acaba aparecendo. Nessas
situações, a Polícia Civil deve ser informada sobre o retorno. Do contrário, o inquérito permanecerá
em aberto, com alerta sobre o desaparecimento no Brasil inteiro, o que pode provocar grandes
transtornos. Então pode acontecer uma porção de problemas, como algum parente sair com a criança e
acabar preso porque ela é considerada desaparecida, explica a delegada.
Como agir em
caso de desaparecimento de crianças
Meu filho desapareceu, o que devo fazer?
Em primeiro lugar, manter a calma;
Caso esteja sozinho, peça auxílio para que acionem
imediatamente a polícia. Não existe prazo para comunicar o desaparecimento, faça-o imediatamente;
Manter alguém no local onde a criança foi vista pela última vez, pois ele poderá retornar ao
local;
Deixar alguém no telefone indicado no cartão de identificação da criança, até para
centralizar informações;
Avisar amigos e parentes, o mais rápido possível, principalmente
os de endereço conhecido da criança, para onde ela possa se dirigir;
Percorrer os locais
de preferência da criança;
Ter sempre a mão foto da criança;
Ter em mente a
vestimenta da criança para descrevê-la, procurando vesti-la com roupas detalhadas, de fácil
visualização e identificação.
Motivos para o desaparecimento
Castigos
excessivos e exagerados, desproporcionais ao fato. Ex: a criança comete uma pequena falta e leva uma
surra;
Repressão excessiva, excesso de controle;
Desleixo dos pais, a criança
sente-se rejeitada e desprezada e foge para chamar a atenção;
Muitas das fugas do lar têm
por motivos o mau desempenho escolar, as responsabilidades domésticas que são atribuídas a elas e
até mesmo pequenos ofícios, como venda de doces e salgados;
O espírito aventureiro também
é um dos grandes responsáveis pela fuga de crianças. Nunca elogie demais seus filhos, afirmando que
eles são bastante espertos, pois isto lhes proporciona uma falsa sensação de segurança e
auto-afirmação;
Fique atento à mudança de comportamento de seu filho, pois isto pode
indicar que o mesmo poderá fugir de casa;
Uma boa conversa com seu filho, pode livrar
você de momentos de angústia e desespero.
Fonte: FONTE: bemparana.com.br | FOTO: Conselho da Criança