Depois da onda do cordão umbilical, pais têm pago pelo armazenamento da polpa de dentes de leite dos seus filhos, que pode dar origem a células-tronco. Segundo dados da R-Crio Células-tronco, centro de tecnologia celular especializado no armazenamento das células-tronco extraídas da polpa do dente de leite, em São Paulo, cerca de 500 pais procuram o laboratório todos os meses para conhecer o procedimento e seus benefícios.

O diferencial das células encontradas na polpa do dente de leite é que são de origem diferente e por isso são capazes de se transformar, em condições adequadas, em diversas outras células do nosso corpo. Elas são jovens e com grande potencial de auxiliar na regeneração de diversos tipos de tecidos e órgãos, como: músculos, dentes, pele, cartilagem, tecido nervoso e adiposo, ossos, tecido cardíaco, neurônios e fígado. Além disso, estas células podem ser armazenadas e congeladas para o uso terapêutico futuro.

Com os avanços da medicina, o tratamento e até mesmo a cura de doenças que hoje são consideradas incuráveis estão se tornando algo cada vez mais possível e palpável. Isso engloba desde problemas mais comuns, como queimaduras e fraturas, até diabetes tipo 1, Alzheimer, doenças cardíacas e testes de medicamentos para autismo, por exemplo. Em média, as empresas que já oferecem o serviço em São Paulo cobram R$ 3 mil mais R$ 450 por ano pelos serviços de coleta, multiplicação das células e criopreservação (congelamento em condições especiais).

No Brasil, estudos clínicos usando a polpa dos dentes de crianças têm se mostrado eficazes, por exemplo, na reabilitação de lábio leporino – quando o paciente tem uma abertura na região do lábio ou do céu da boca, fruto do não fechamento dessa estrutura durante a gestação.

Apesar de os dentes adultos também conterem esse tipo de células, elas estão em menor quantidade e já envelhecidas. A ciência estima que também será possível utilizá-las para tratamentos, mas o procedimento será mais complicado do que o usado para células jovens.

Dúvidas sobre o procedimento


1 O dentinho da criança precisa ser extraído no consultório ou pode ser aquele que caiu em casa?

Daniela Bueno: É perigoso você pedir para congelar o dente que caiu em casa. Este dente não vai estar armazenado adequadamente e pode estar contaminado. O ideal é, quando o dente começar a amolecer, os pais levarem a criança ao dentista, que, segundo determinação do Conselho Federal de Odontologia e da Anvisa, deve ser credenciado a um laboratório, para fazer a extração, já visando a criopreservação.

2 Como é o procedimento de congelamento da célula-tronco da polpa do dente de leite?
DB: Quando as células chegam ao laboratório, nós as multiplicamos, testamos sua qualidade e congelamos um número determinado de célula em tubos diferentes. Se, no futuro, a criança vier a precisar para algum tratamento, um dos tubos pode ser descongelado e expandido, porque de uma célula-tronco você consegue dar origem a várias outras idênticas a ela. Isso significa que as células congeladas podem ser usadas mais de uma vez e para diferentes tipos de tratamentos.
  
3 Os pais ou parentes podem utilizar a célula-tronco da criança?
DB: No momento, as pesquisas já mostram que as células-tronco do dentinho “enganam” o sistema imunológico. Por exemplo, eu fiz um trabalho com as células-tronco do dente de leite humano e coloquei no rato para “fazer osso”. São espécies diferentes. E a célula humana “fez osso” no rato. Só que ainda é muito cedo para a gente afirmar, veementemente, que podemos utilizar a célula da criança nos pais, por exemplo. Ainda não temos um teste de compatibilidade que comprove a utilização por outras pessoas.

4 Quais são os outros cuidados necessários para obter uma célula-tronco de qualidade?

DB: A escolha do laboratório para a criopreservação. Existem diversos laboratórios, mas poucos têm as certificações necessárias. Os laboratórios devem atender à premissas que garantam às famílias a utilização futura destas células nas condições necessárias para os mais diferentes tipos de terapias a que elas se destinam.

Rápida

Reconstituição de neurônios
As células-tronco da polpa dos dentes de leite são valiosas para os cientistas. A Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP usa o material para reconstituir neurônios para o tratamento de autismo. A faculdade de Odontologia da universidade estuda a reconstrução do tecido dentário que revolucionaria tratamentos de cáries e periodontites.


Fonte: FONTE: bemparana.com.br | FOTO: Divulgação