Desde 2012, o Paraná já registrou quase 18 mil casos de intoxicação provocada por medicamentos. Os dados são da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) e mostram ainda que, só no ano passado, o número de casos chegou a 4.053. Mais de metade destes casos ocorre com pessoas entre 20 e 49 anos e pouco mais de 71% das vítimas são mulheres.

A discussão vem à tona na semana marcada pelo Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, 5 de maio. Os números assustam, e com razão. No comparativo, por exemplo, com os casos de intoxicação envolvendo agrotóxicos de qualquer natureza (883), o número de casos de intoxicação por produtos químicos (1.834) ou os casos envolvendo intoxicação pelo uso de drogas (3.956), no mesmo período, é possível verificar que os medicamentos estão na liderança absoluta.

"Esses dados mostram a necessidade de conscientizar a população sobre o uso racional de medicamentos. A automedicação pode mascarar sintomas ou até mesmo provocar intoxicações graves e é importante que as pessoas saibam como evitar essas situações", ressalta o secretário estadual da Saúde, Michele Caputo Neto.

A Secretaria revela, ainda, que mais de cinco mil destes casos ocorreram em virtude de fatores como a má conservação do medicamento e a ingestão de produtos fora do prazo de validade, erros na prescrição ou administração e a automedicação.

8ª Regional tem 70 casos por ano
Nos 27 municípios de abrangência da 8ª Regional de Saúde, uma média de 70 casos de intoxicação por medicamentos foram registrados nos últimos anos. Enquanto no País o total de intoxicações provocadas por medicamentos representa 27% dos registros. Na região este montante chega quase a 50%. "É assustadora esta questão, é um volume muito grande e preocupa mesmo. Os casos envolvendo crianças e idosos não são a maioria, mas normalmente são os que preocupam mais pela gravidade da situação e o risco", comenta o farmacêutico Benvenuto Juliano Gazzi, coordenador da Seccional Sudoeste do Conselho Regional de Farmácia do Paraná (CRF/PR).

Segundo dados da 8ª Regional, de 2007 até o final de 2016, o total de intoxicações por remédios foi de 431 casos. Entre os anos de 2012 e 2016, foram 249 casos registrados e, destes, 75% foram pacientes com idade entre 15 e 59 anos e outros 40 casos foram crianças e adolescentes menores de 14 anos. Entre as pessoas com mais de 60 anos, apenas oito casos foram registrados no período. "No caso dos mais jovens e crianças, normalmente é negligências dos pais, falta de cuidado, e também aquela coisa da brincadeira, para fazer a criança tomar remédio quando precisa, de dizer que é "docinho, é gostoso", e quando ela encontra um medicamento acessível pode ocorrer a intoxicação. Já os idosos, normalmente tomam muito medicamento, e muitas vezes é falta de cuidado, falta de atenção, não enxergam direito. É preciso sempre ficar atento", alerta Juliano.

Uso racional
O uso racional de medicamentos é um conceito onde o paciente recebe todas as informações necessárias para que faça o melhor uso do tratamento prescrito. Desde o porquê de sua recomendação até qual a maneira correta para armazená-lo em casa. "A orientação para uso racional de medicamentos visa despertar uma maior consciência para o assunto evitando que, por exemplo, as pessoas se automediquem ou saiam de um consultório médico com dúvidas. Algo que infelizmente ainda é frequente", destaca o chefe da divisão de Vigilância Sanitária de Produtos, Luciane Otaviano de Lima.

A Secretaria de Estado da Saúde ressalta que idosos merecem atenção especial neste assunto. Comumente pessoas com maior idade costumam consumir uma maior gama de medicamentos diariamente. Para inseri-los no conceito de uso racional de medicamentos, a Secretaria criou uma série de materiais gráficos, distribuídos em eventos públicos ou mesmo em empresas e instituições, orientando que, por exemplo, criem listas de seus medicamentos e tirem dúvidas com médicos e farmacêuticos.

Para Benvenuto Juliano Gazzi, da regional do CRF/PR, o papel de médicos e farmacêuticos neste processo é fundamental e essencial. Segundo ele, a orientação adequada quanto ao uso correto e o acompanhamento do tratamento dos pacientes é importante, principalmente pelo fato de haver uma relação maior de confiança entre o farmacêutico e o paciente. "As pessoas não podem ter medo de falar, de contar o que estão sentindo, que medicamentos estão tomando e normalmente com o profissional farmacêutico este processo parece ser mais fácil para muitas pessoas", comenta.

Já o Conselho Regional de Medicina ressalta a importância de se seguir uma receita ao pé da letra. "A receita é a complementação do ato médico", afirma o pediatra Maurício Marcondes Ribas, conselheiro corregedor geral do CRM-PR. Para o conselheiro, por mais que os sintomas sumam, o tratamento deve ser feito até o final. "Uma dor de ouvido, por exemplo, pede sete dias de tratamento. Mas depois do quarto ou quinto dia, quando os sintomas somem, o paciente não deve parar de tomar o remédio, para que o tratamento seja eficaz", enfatiza.

Evento na praça de Beltrão
Para destacar o Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, o Conselho Regional de Farmácia do Paraná vai oferecer à população orientações sobre o uso correto de medicamentos com atividades realizadas em vários municípios do Estado.


Fonte: FONTE: jornaldebeltrao.com.br | FOTO: Alex Trombetta/JdeB