G1 - O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados aprovou o relatório do deputado Marcos Rogério, que recomenda a cassação do mandato de Eduardo Cunha.
As contas dos dois lados indicavam um empate, com o voto de minerva do presidente do Conselho de Ética, o deputado José Carlos Araújo, ainda contra Eduardo Cunha. Nem foi preciso, porque o placar não chegou a ficar empatado.
Dois votos, com os quais aliados do deputado afastado contavam, foram perdidos: um deles, era o voto da deputada Tia Eron (PRB-BA), que fez bastante mistério nos últimos dias e era apontada como defensora de Cunha. E o outro voto, ainda mais impressionante: de Wladimir Costa do Partido Solidariedade do Pará, integrante da tropa de choque de Eduardo Cunha.
Ontem (14) à noite, na residência oficial da Câmara, ainda ocupada pelo presidente afastado, nem a defesa dele conseguia explicar o fato de dois parlamentares, antes aliados, terem votado em outro sentido.
Durante a votação, Tia Eron discursou: "Eu não posso, aqui, absolver o representado. Eu não posso! Eu não posso! Quero votar, sim, com o relatório do deputado Marcos Rogério". Muitos vibraram com a declaração e ela foi aplaudida.
O deputado Wladimir Costa também pegou a todos de surpresa e discursou consciente de que seu voto seria polêmico: "Eu não quero aqui, frustar o meu partido, ou quem quer que seja, ou alguns que imaginavam que iríamos votar diferente. Eu finalizo, dizendo que nós vamos votar com o relatrório do deputado Marcos Rogério".
Teremos agora um rito rápido, com cinco dias para a manifestação da defesa, sobre eventuais ritos formais do processo - haverá, por certo, esta alegação. E depois, mais cinco dias para a Comissão de Constituição e Justiça decidir em votação.
Por mais que se tente manobrar, e que seja possível prever tentativas de manobra, a margem de chances é pequena. Depois, o Plenário tem a palavra final: são necessários no mínimo 257, dos 513 votos, para que se dê a cassação.
Representantes de cada lado, a favor e contra Eduardo Cunha deram seus pareceres: o deputado Carlos Marun (PMDB-MS), aliado de Cunha disse: "Vamos ao Plenário. Eu entendo que existe chance, diante de uma pressão menos localizada - como foi esta, em relação à Tia Eron e como foi essa posição do Wladimir, surpreendente - eu acho que temos chances de prevalecer o que nós... nós não estamos pedindo indulto para o Eduardo Cunha. Não estamos pedindo uma anistia para o Eduardo Cunha. Nós estamos pedindo que cada coisa seja julgada no seu devido lugar".
O deputado Ivan Valente (PSOL-SP), que é a favor da cassação, mostrou-se otimista: "Olha, eu acho que agora, com o voto aberto, no Plenário, Eduardo Cunha não tem nenhuma chance. Não tem! Porque a barreira principal estava aqui. No Plenário, Eduardo Cunha não tem nenhuma chance! E nós abrimos hoje uma porteira para que a impunidade não prossiga no parlamento brasileiro e nem a desmoralização do parlamento brasileiro".
Como deputado e presidente afastado da Câmara por ordem judicial do Supremo Tribunal Federal, Eduardo Cunha deve enfrentar o processo de cassação sem poder atuar diretamente no Congresso Nacional.

Legenda: Manifestantes mostram cartazes de Fora, Cunha! durante a votação do relatório do deputado Marcos Rogério (DEM-RO) pela cassação de Eduardo de Cunha. Foto Wilson Dias/Agência Brasil.