AEN - A safra de verão e de inverno 2013/14 está mais promissora ao produtor. O volume de grãos a ser colhido neste ano no Paraná deverá ficar ligeiramente abaixo em relação ao ano passado, mas quase todos os produtos apresentam tendência para bons preços no período da comercialização, apontando cenários favoráveis ao produtor.
O relatório do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento, divulgado nesta sexta-feira (02) aponta que a safra de verão e de inverno pode atingir um volume de 35,4 milhões de toneladas, cerca de 3% inferior ao volume da safra anterior (2012/13) que fechou em 36,5 milhões de toneladas.
“Mas o produtor poderá ganhar mais dinheiro neste ano”, prevê o diretor do Deral, Francisco Carlos Simioni. Ele explica que dos preços dos alimentos estão em alta, com tendência de manutenção do cenário para as principais commodities comercializadas no mundo. Prova disso é o ritmo mais lento da comercialização, principalmente de soja e milho, porque o produtor está mais preparado e mais atento à evolução dos preços no mercado interno e nas principais bolsas no mundo.
Daqui para a frente pode ocorrer alterações de clima, tanto no Brasil como nos Estados Unidos, onde começa a ser plantada a safra 2014-2015. O clima nos nos Estados Unidos vai refletir no preço dos produtos paranaenses. Caso haja um clima desfavorável para os EUA, a tendência de aumento nos preços dos produtos agrícolas do Paraná será intensificada. “Devemos acompanhar com atenção o desenvolvimento da segunda safra de milho que está plantada, e do trigo, cujo plantio está ocorrendo neste momento”, recomendou.
SOJA - A colheita da soja da safra 13/14 está praticamente concluída e a produção no Estado e é estimada em 14,5 milhões de toneladas - já computada a quebra de 8% devido à estiagem e as temperaturas elevadas, bem acima do normal, no início do ano.
As perdas decorrentes desse período somaram aproximadamente 2 milhões de toneladas, em relação à estimativa inicial do Deral que apontava para uma safra recorde de 16,5 milhões de toneladas. “Mesmo com os prejuízos, o Paraná ainda colheu uma boa safra de soja”, disse o economista Marcelo Garrido, chefe da conjuntura do Deral.
A segunda safra de soja está plantada e se não for prejudicada pelo clima poderá ser 55% maior do que o ano passado. Esse ano, motivado pelos bons preços o produtor plantou uma área 34% maior que no ano passado e a produção poderá atingir 202 mil toneladas do grão.
MAIS ESTRUTURADOS - Em relação à comercialização, mesmo com um preço bom, em torno de R$ 64,00 a saca, o produtor de soja está cauteloso. “Atualmente 53% da safra já foi comercializada, quando na média dos anos anteriores esse percentual atingia cerca de 65% da produção estadual nessa época do ano”, disse Garrido.
Segundo o diretor do Deral Francisco Simioni, os bons preços alcançados nas últimas três safras recompuseram, em parte, a renda dos produtores de soja. Eles estão mais estruturados e capitalizados. “Como a tendência de queda de preços da commoditie no mercado externo é muito fraca neste momento, a cautela e atenção em relação à evolução das cotações no mercado e as alterações no câmbio são muito importantes e devem ser acompanhados diariamente pelos produtores, até que finalizem a comercialização da oleaginosa”, recomendou.
MILHO - O milho da segunda safra está plantado e a estimativa de produção aponta para uma colheita de 9,94 milhões de toneladas, transformando esse período da safrinha no principal período para plantio no Paraná, explicou a engenheira agrônoma do Deral, Juliana Tieme Yagushi. Segundo ela, o clima está bom e a safra vem se desenvolvendo bem. Porém, a maior parte da área plantada, que atingiu 1,9 milhão de hectares esse ano está, em fase suscetível e se ocorrer geada o produto poderá ser afetado.
Juliana Yagushi explica que neste ano o produtor plantou uma área cerca de 12% inferior ao ano passado, porque não estava muito satisfeito com os preços de comercialização na época do plantio. Mas houve uma recuperação no mercado e atualmente o preço praticado já é de R$ 24,00 a saca, na média do estado. Também com tendência de bons preços daqui para frente, o produtor não tem pressa em vender sua produção.
A primeira safra, já concluída, atingiu um volume de 5,3 milhões de toneladas. O volume é 25% menor que a anterior, em função da redução drástica na área plantada - de apenas 664.794 hectares, a menor área plantada com milho no Paraná nesse período do ano. A primeira safra está apenas 40% vendida.
FEIJÃO - A segunda safra de feijão está em início de colheita e a projeção aponta para uma safra 40% maior em relação ao mesmo período do ano passado, podendo atingir um volume de 473.871 toneladas. No ano passado, nessa época foram colhidas 339.372 toneladas, safra que foi prejudicada pelo clima durante o início de inverno.
De acordo com o engenheiro agrônomo Carlos Alberto Salvador, esse ano houve uma situação atípica que favoreceu a produção de feijão da segunda safra. O produtor retardou o plantio por causa do clima adverso no início desse ano, que teve escassez de chuvas e temperaturas elevadas. “Quem deixou para plantar depois, pegou um período de recuperação do clima que favoreceu a produtividade, e agora deverá colher mais”, explicou.
Para o feijão das secas (segunda safra), se o volume de produção está bom o mesmo não se pode falar da comercialização, disse o técnico. Segundo ele, o preço do feijão de cor está em queda, devido ao excesso de oferta do produto, em praticamente todo o País. Nesse período do ano está sendo colhido um volume de 1,4 toneladas a nível nacional, dos quais o Paraná tem uma participação de 33%.
AQUISIÇÕES DIRETAS - Segundo Francisco Simioni, a Secretaria Estadual da Agricultura, em conjunto a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) e a Organização das Cooperativas (Ocepar), encaminhou ofício ao Governo Federal solicitando providências para alocação de recursos para aquisições diretas de até 50 mil toneladas de feijão de cor, considerando a tendência de queda de preços para esse tipo de feijão no mercado.
SAFRA DE INVERNO - A elevação nos preços estimulou o produtor de trigo ampliar a área plantada no Paraná, que neste ano já é 27% superior ao plantado no ano passado. A projeção do Deral aponta para uma área de 1,26 milhão de hectares. Se não houver problemas com o clima, a estimativa para a produção é melhor ainda, em torno de 100% de aumento. No ano passado foram colhidos 1,88 milhão de toneladas com trigo no Estado e esse ano a projeção aponta para uma produção de 3,8 milhões de toneladas.
Porém, o período de plantio de trigo no Paraná é muito longo, em torno de quatro meses para atingir todas as áreas do Estado. Isso indica que se ocorrerem geadas poderão ser atingidas áreas suscetíveis e frustrar a estimativa inicial. “O trigo é uma cultura de risco e o produtor sabe disso”, disse o engenheiro agrônomo Carlos Hugo Godinho.
Atualmente o preço - em torno de R$ 42,00 a R$ 43,00 a saca - está melhor do que no ano passado. Simioni lembra que há movimentações de âmbito federal considerando a necessidade de importação de trigo com tarifas reduzidas. Se essa ação se confirmar, sem um planejamento adequado, a entrada de produto do mercado externo no mesmo momento da comercialização do trigo nacional, será prejudicial e poderá ocorrer queda de preços.
TRÊS COOPERATIVAS - O diretor do Deral afirma que neste ano há um fato novo na comercialização de trigo no Paraná que é a entrada de três cooperativas que vão atuar na moagem do grão: a Coopavel e a Cotriguaçu, em Cascavel, e a Batavo, nos Campos Gerais. “Elas querem um trigo de qualidade para a indústria de panificação. Se a produção não atender a essa exigência, certamente será descartada”, diz Simioni.
Como o produtor está atendo às recomendações da pesquisa e da assistência técnica que recomendam a rotação de culturas para evitar problemas com o solo, Simioni acredita que, mesmo com risco, o agricultor paranaense está disposto a plantar o trigo, empregando tecnologia com olho na possibilidade de bons preços.
CEVADA - Outra cultura de inverno que começa a ganhar fôlego no Paraná é a cevada. Seu plantio é restrito à região dos Campos Gerais e esse ano deve atingir uma área de 50 mil hectares com projeção de aumento de 8% na produção que pode atingir 204.780 toneladas do grão.
De acordo com o economista Methódio Groxco, a tendência para o plantio da cevada é favorável no Paraná, principalmente depois do anúncio de investimentos de mais uma maltaria de grande porte no Estado. O processo de comercialização da cevada é organizado e o produtor vende o grão com contrato assinado antes de plantar. “Ele tem a garantia de compra da produção pela indústria”, explicou o técnico.
Com essa segurança o produtor está investindo cada vez mais em tecnologia, o que se reflete em aumento da produtividade. “A média de produtividade que variava de 3.400 a 3.500 quilos por hectare, esse ano está estimada em até 4.100 quilos por hectare, o que é considerado excepcional”, diz Groxco. Além disso, a produção de cevada tem outro fator positivo ao produtor, porque é plantada mais tarde e geralmente, escapa das geadas.